sexta-feira, 19 de outubro de 2007

“O CAPITALISMO ACADÊMICO ESTÁ ENTRANHADO NA UNIVERSIDADE BRASILEIRA”

é galera.... e alguns que pensavam que isso só acontecia com os professores de escolas públicas fundamental e médio...
essa polivalência resulta na desvalorização do trabalho docente, porque "esse processo vai alienando o professor de sua atividade e ele já nem mesmo planeja suas aulas". Denise alerta que com o grande rol de atividades que o professor tem que desenvolver hoje, " o ensino tem se transformado numa atividade marginal

“O capitalismo acadêmico está entranhado na universidade brasileira”. A afirmação é do professor Lucídio Bianchetti, durante sua participação na conferência “Produtivismo acadêmico, produção do conhecimento e alienação do trabalho docente”, realizada anteontem (15/10) pelo ANDES-SN na TV Comunitária de Brasília, com transmissão via internet.
Bianchetti é professor da Universidade Federal de Santa Catarina “ UFSC e organizador, junto com Elisa Maria Quartiero, do livro “Educação Corporativa: Mundo do Trabalho e do Conhecimento: Aproximações”.
Ele criticou o modelo corporativo adotado não somente nas instituições particulares de ensino, mas também nas públicas, inclusive o modelo de avaliação adotado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior “ Capes. “Não somos contra a avaliação, mas, sim, contra esse modelo de avaliação que prioriza a quantidade e não a qualidade de artigos publicados, que trouxe o conceito empresarial de produtividade para dentro da universidade, ao qual a liberação dos recursos está subordinada. Isso faz com que o sentido da educação deixe de existir”, afirmou Bianchetti.
O professor alertou para os efeitos que esse modelo produtivista traz para a saúde física e mental dos professores e destacou que muitos docentes, hoje, não têm mais vida social porque precisam atender a demandas cada vez maiores, impostas pela política educacional brasileira. “FHC e Paulo Renato passaram e vemos que a empresa dentro da universidade passou de uma política de governo para uma política de Estado”, afirmou.
Autora do livro “Revolução no Trabalho”, a psicóloga Denise Vieira da Silva Lemos, doutora pelo Núcleo de Psicologia Social da Universidade Federal da Bahia-UFBA, disse que a universidade brasileira vive uma crise financeira, de identidade e na sua estrutura interna, que tem como eixo a perda de sua autonomia. “Hoje, o professor luta para sobreviver. Além do ensino, tem que fazer pesquisa e extensão e, às vezes, ser um bom administrador e, mais recentemente, um bom captador de recursos financeiros”, declarou.
Para a psicóloga, essa polivalência resulta na desvalorização do trabalho docente, porque “esse processo vai alienando o professor de sua atividade e ele já nem mesmo planeja suas aulas”. Denise alerta que com o grande rol de atividades que o professor tem que desenvolver hoje, “o ensino tem se transformado numa atividade marginal”.
Para ela, a conseqüência mais crítica desse modelo empreendedor é a perda da capacidade crítica da universidade. “Ética, crítica e política ficam de fora desse sistema. O professor fica sendo o depositário dessas tensões e acaba perdendo a autonomia sobre sua atividade, quando a autonomia é o principal elemento de atratividade da carreira. No entanto, na minha pesquisa, vi que, hoje, ela está reduzida à autonomia em relação à sala de aula, somente”.
Paulo Rizzo, presidente do ANDES-SN, destacou que as políticas do governo brasileiro visam primordialmente à melhoria dos indicadores quantitativos da educação sem que haja uma preocupação real com a qualidade do ensino que tem sido proporcionado aos brasileiros. “Todas as demandas empresariais para a educação são de aligeiramento na formação”, afirmou.
Rizzo também criticou os sistemas de avaliação e financiamento, que levam ao individualismo. “A escassez de recursos exige alta produtividade dos professores, e essa lógica individualiza todas as responsabilidades. Não há futuro para a universidade na individualização. A saída para a universidade brasileira é a garantia de recursos públicos e de autonomia”, defendeu.

Nenhum comentário: