ENTREVISTA/Kléber Loor
Pandillas e Naciones do Equador – Uma realidade terrível e uma tarefa desafiadora: das vítimas aos vitimizadores
Pesquisador do Instituto Ser Paz e autor do relatório ‘Pandillas e Naciones do Equador – Uma realidade terrível e uma tarefa desafiadora: das vítimas aos vitimizadores’, publicada recentemente no livro ‘Nem Guerra nem Paz’, Kléber Loor afirma que o aumento da repressão policial nos anos 80 contribuiu para o crescimento das gangues armadas no país.
Em entrevista exclusiva ao COAV, Kléber lembra que foi a partir da criação do Grupo Especial Antipandillas, em 1987, que as gangues juvenis começaram a crescer e se transformar em ‘naciones’, com atuação em todo o território equatoriano. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
Qual a diferença entre as ‘pandillas’ e ‘naciones’?
As ‘pandillas’ são grupos formados em sua maioria por homens entre 11 e 18 anos com uma estrutura hierárquica informal. Os jovens que fazem parte destes grupos têm interesses comuns por música, festas e esportes. As ‘pandillas’ têm uma atuação limitada a uma área específica da cidade, geralmente um bairro, onde os jovens se conheceram e se juntaram em busca da segurança que nem o Estado, nem a família lhes deram satisfatoriamente. Segundo dados recentes, existem hoje cerca de 1.000 ‘pandillas’ no Equador.
Já as ‘naciones’ são grupos também formados por jovens, a maioria entre 12 e 24 anos, que tem uma estrutura hierárquica piramidal e um líder máximo. A atuação das ‘naciones’ é muito mais ampla já que sua organização permite criar ramificações em diversas cidades do país. Seu principal objetivo é ter poder sobre um território específico e reconhecimento dos demais grupos. Hoje existem aproximadamente 50 ‘naciones’ no país.
E como surgiram as ‘naciones’?
Os primeiros grupos começaram a se formar no início da década de 90. E curiosamente como resposta das ‘pandillas’ às políticas de repressão. Na época, elas se sentiram acuadas e começaram a usar armas cada vez mais pesadas. Em 1987, por exemplo, foi criada o Grupo Especial Antipandillas (G.E.A.). No mesmo ano, jovens com menos de 18 anos foram simplesmente proibidos de sair na rua depois das 22h. Toque de recolher mesmo. Estas medidas tiveram efeito contrário e obrigaram os jovens a buscar experiências similares de organização em nível nacional para manter o domínio de território e crescer estrategicamente num ambiente de absoluta clandestinidade.
O que significa para os jovens fazer parte de uma ‘nación’?
As ‘naciones’ têm um tipo de estrutura que funciona como uma espécie de filtro. Os jovens que entram assumem um compromisso de confiança com os outros integrantes. As regras que existem nos grupos também contribuem para a criação de um pacto de defesa e proteção pela vida. Participar de uma ‘nación’ significa vencer diversos tipos de provas violentas que vão desde castigos físicos, até roubos e crimes. Mas a estrutura hierárquica das 'naciones' deixa seus integrantes totalmente submissos aos líderes.
Dentro deste cenário, quais as maiores dificuldades que você teve para conseguir os dados da pesquisa?
Com certeza, chegar até as fontes primárias. Os jovens têm muita desconfiança. Eles não gostam de falar sobre suas vidas, ainda mais para estranhos. A ajuda do Ser Paz foi decisiva para chegar até as pessoas certas.
O que chamou mais sua atenção durante as entrevistas?
Fiquei bastante surpreso com o preço das armas pequenas, como os revólveres. E todos os jovens sabiam onde eles são vendidos. Outro fato que me surpreendeu foi ver adolescentes usando armas cada vez mais novos e alguns até que já tinham matado.
O estudo teve algum tipo de conseqüência prática?
Os jovens vivem etapas complicadas e perigosas em suas vidas. Num curto espaço de tempo dois jovens que eu havia entrevistado foram assassinados. O primeiro num assalto a mão armada, e o segundo num acerto de contas entre grupos rivais. Precisamos de tempo para conseguir realizar um trabalho como “acabar com a violência nas ruas”.
E isto é possível?
Existem hoje mais de 1.000 ‘pandillas’ no Equador. E outras tantas ‘naciones’. Os confrontos entre grupos rivais começam com disputa por território, revanches e acerto de contas. É preciso lembrar que os grupos maiores tentam se manter no poder na base da violência contra grupos menores. Por isso, uma das alternativas seria tentar unir os grupos e diminuir esses confrontos. Devemos apostar mais em “outras armas” como os projetos de capacitação profissional, criação de micro-empresas, projetos de cultura, esporte, música. E oferecer o máximo possível de iniciativas aos mais diferentes grupos.
Quais lembranças você vai guardar dessa experiência?
Os jovens foram todos muito cordiais durante as entrevistas. E com certeza ficaram esperançosos em saber que existem pessoas e instituições que querem fazer algo por eles. Há pouco tempo, estive no velório de um dos garotos que morreu e conversei com alguns de seus amigos. Eles disseram que estão dispostos a participar de reuniões conosco e tentar buscar alternativas para o problema.
Você acredita que é possível dar prosseguimento ao trabalho da pesquisa?
Já existem alguns jovens que trabalham com a gente, principalmente líderes. Estamos buscando financiamento para colocar em prática outros projetos. Mas vamos precisar de mais verba para desenvolver a criação de microempresas. Queremos investir em áreas diferentes, como cultura e artesanato. Para isso vamos precisar de um tipo de cooperativa ou banco de desenvolvimento que nos ajude com pequenos empréstimos. E que essa verba seja permanente para conseguirmos dar prosseguimento aos projetos.
Clique para ler o relatório completo “As Pandillas e Naciones do Equador – Uma realidade terrível e uma tarefa desafiadora: das vítimas aos vitimizadores
Pandillas e Naciones do Equador – Uma realidade terrível e uma tarefa desafiadora: das vítimas aos vitimizadores
Pesquisador do Instituto Ser Paz e autor do relatório ‘Pandillas e Naciones do Equador – Uma realidade terrível e uma tarefa desafiadora: das vítimas aos vitimizadores’, publicada recentemente no livro ‘Nem Guerra nem Paz’, Kléber Loor afirma que o aumento da repressão policial nos anos 80 contribuiu para o crescimento das gangues armadas no país.
Em entrevista exclusiva ao COAV, Kléber lembra que foi a partir da criação do Grupo Especial Antipandillas, em 1987, que as gangues juvenis começaram a crescer e se transformar em ‘naciones’, com atuação em todo o território equatoriano. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
Qual a diferença entre as ‘pandillas’ e ‘naciones’?
As ‘pandillas’ são grupos formados em sua maioria por homens entre 11 e 18 anos com uma estrutura hierárquica informal. Os jovens que fazem parte destes grupos têm interesses comuns por música, festas e esportes. As ‘pandillas’ têm uma atuação limitada a uma área específica da cidade, geralmente um bairro, onde os jovens se conheceram e se juntaram em busca da segurança que nem o Estado, nem a família lhes deram satisfatoriamente. Segundo dados recentes, existem hoje cerca de 1.000 ‘pandillas’ no Equador.
Já as ‘naciones’ são grupos também formados por jovens, a maioria entre 12 e 24 anos, que tem uma estrutura hierárquica piramidal e um líder máximo. A atuação das ‘naciones’ é muito mais ampla já que sua organização permite criar ramificações em diversas cidades do país. Seu principal objetivo é ter poder sobre um território específico e reconhecimento dos demais grupos. Hoje existem aproximadamente 50 ‘naciones’ no país.
E como surgiram as ‘naciones’?
Os primeiros grupos começaram a se formar no início da década de 90. E curiosamente como resposta das ‘pandillas’ às políticas de repressão. Na época, elas se sentiram acuadas e começaram a usar armas cada vez mais pesadas. Em 1987, por exemplo, foi criada o Grupo Especial Antipandillas (G.E.A.). No mesmo ano, jovens com menos de 18 anos foram simplesmente proibidos de sair na rua depois das 22h. Toque de recolher mesmo. Estas medidas tiveram efeito contrário e obrigaram os jovens a buscar experiências similares de organização em nível nacional para manter o domínio de território e crescer estrategicamente num ambiente de absoluta clandestinidade.
O que significa para os jovens fazer parte de uma ‘nación’?
As ‘naciones’ têm um tipo de estrutura que funciona como uma espécie de filtro. Os jovens que entram assumem um compromisso de confiança com os outros integrantes. As regras que existem nos grupos também contribuem para a criação de um pacto de defesa e proteção pela vida. Participar de uma ‘nación’ significa vencer diversos tipos de provas violentas que vão desde castigos físicos, até roubos e crimes. Mas a estrutura hierárquica das 'naciones' deixa seus integrantes totalmente submissos aos líderes.
Dentro deste cenário, quais as maiores dificuldades que você teve para conseguir os dados da pesquisa?
Com certeza, chegar até as fontes primárias. Os jovens têm muita desconfiança. Eles não gostam de falar sobre suas vidas, ainda mais para estranhos. A ajuda do Ser Paz foi decisiva para chegar até as pessoas certas.
O que chamou mais sua atenção durante as entrevistas?
Fiquei bastante surpreso com o preço das armas pequenas, como os revólveres. E todos os jovens sabiam onde eles são vendidos. Outro fato que me surpreendeu foi ver adolescentes usando armas cada vez mais novos e alguns até que já tinham matado.
O estudo teve algum tipo de conseqüência prática?
Os jovens vivem etapas complicadas e perigosas em suas vidas. Num curto espaço de tempo dois jovens que eu havia entrevistado foram assassinados. O primeiro num assalto a mão armada, e o segundo num acerto de contas entre grupos rivais. Precisamos de tempo para conseguir realizar um trabalho como “acabar com a violência nas ruas”.
E isto é possível?
Existem hoje mais de 1.000 ‘pandillas’ no Equador. E outras tantas ‘naciones’. Os confrontos entre grupos rivais começam com disputa por território, revanches e acerto de contas. É preciso lembrar que os grupos maiores tentam se manter no poder na base da violência contra grupos menores. Por isso, uma das alternativas seria tentar unir os grupos e diminuir esses confrontos. Devemos apostar mais em “outras armas” como os projetos de capacitação profissional, criação de micro-empresas, projetos de cultura, esporte, música. E oferecer o máximo possível de iniciativas aos mais diferentes grupos.
Quais lembranças você vai guardar dessa experiência?
Os jovens foram todos muito cordiais durante as entrevistas. E com certeza ficaram esperançosos em saber que existem pessoas e instituições que querem fazer algo por eles. Há pouco tempo, estive no velório de um dos garotos que morreu e conversei com alguns de seus amigos. Eles disseram que estão dispostos a participar de reuniões conosco e tentar buscar alternativas para o problema.
Você acredita que é possível dar prosseguimento ao trabalho da pesquisa?
Já existem alguns jovens que trabalham com a gente, principalmente líderes. Estamos buscando financiamento para colocar em prática outros projetos. Mas vamos precisar de mais verba para desenvolver a criação de microempresas. Queremos investir em áreas diferentes, como cultura e artesanato. Para isso vamos precisar de um tipo de cooperativa ou banco de desenvolvimento que nos ajude com pequenos empréstimos. E que essa verba seja permanente para conseguirmos dar prosseguimento aos projetos.
Clique para ler o relatório completo “As Pandillas e Naciones do Equador – Uma realidade terrível e uma tarefa desafiadora: das vítimas aos vitimizadores
*Diccionario de Español
"Pandilla:1. Grupo de amigos que salen juntos o se reúnen habitualmente para realizar alguna actividad: una pandilla de fútbol; el chico sale con su pandilla todos los fines de semana. 2 col. desp. Grupo de personas que llevan a cabo acciones que se consideran negativas o incluso ilícitas: esta porquería sólo la puede haber hecho una pandilla de inútiles."
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