segunda-feira, 29 de outubro de 2007

LIVROS DIDÁTICOS TÊM MUITOS E GROSSEIROS ERROS SOBRE A ÁFRICA

Pesquisa: livros didáticos têm erros sobre a África
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Um pesquisa realizada no Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB) com base em livros didáticos sugere que o ensino da história da África e ainda está longe do ideal.
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Segundo as conclusões do estudo, os livros didáticos exercem papel importante na manutenção de um estereótipo de caos social e econômico predominante na África. Durante dois anos, o historiador Anderson Oliva analisou capítulos específicos sobre a história da África anterior ao século XIX em manuais escolares destinados aos quatro últimos anos do ensino fundamental (5ª a 8ª séries). Das oito obras, quatro fazem parte da lista que o Ministério da Educação (MEC) indica para as escolas públicas e outros quatro são adotados por escolas privadas. De acordo com Oliva, os principais problemas estão nas "simplificações e generalizações que recaem em erros". Com isso, segundo o pesquisador, mantêm-se as idéias e imagens sobre o continente e suas populações, além de reforçar a crença de que a África não possui relevância para a história da humanidade. No levantamento, um dos problemas mais apontados é a divisão do continente ao sul do Saara em apenas dois grandes conjuntos de povos. "Séculos de história e centenas de grupos étnicos são identificados apenas como os bantos e os sudaneses", exemplifica. A tese afirma que essa divisão erra ao utilizar unicamente o critério das línguas faladas na região em questão. "É como se tratássemos toda a América Latina como uma sociedade igual", compara o pesquisador. Para ele, uma alternativa a tal critério seria evidenciar as complexidades e diversidades da África Negra, como referências às centenas de grupos étnicos que podem ser encontrados ao longo dos séculos.
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Visão "Eurocêntrica"
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De acordo com o levantamento realizado por Oliva, entre os livros analisados, o número de páginas destinadas à história da África é significativamente menor que o de outros assuntos. Os capítulos que tratam de temas como Europa Medieval, Absolutismo Monárquico, Renascimento Cultural e Construção do Pensamento Moderno Ocidental ocupam entre 15 e 20 páginas e vasta bibliografia. Já a história da África é, quase sempre, abordada em um único capítulo que varia de 10 a 15 páginas, e com uma literatura de apoio restrita, alerta Oliva. "Isso mostra que o ensino da disciplina ainda segue a visão `eurocêntrica` ." Apesar de todos os livros analisados serem novos - foram editados entre 1998 e 2000 - a pesquisa identifica um distanciamento entre os conteúdos dos manuais e a recente produção historiográfica. Para o estudo, isso demonstra "continuidade dos olhares coloniais". Oliva destaca ainda um outro problema: o fato de o Brasil ter poucos cientistas que estudam a história, a arte ou a literatura daquele continente.
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Legislação
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Oliva faz ainda ressalvas à funcionalidade da Lei 10.639/03, que tornou obrigatório o ensino da história da África e dos afro-brasileiros na educação básica. Segundo ele não foi implantada uma política específica para preparação de professores. "Nem todas as universidades oferecem disciplinas sobre o tema em cursos de graduação para os professores. E algumas das que oferecem, não o fazem dentro do currículo obrigatório, apenas como disciplina optativa."
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Onde o Brasil acerta
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Em meio aos erros, algumas iniciativas foram elogiadas pelo historiador. Ele afirma que muitos autores de livros didáticos optaram por não utilizar imagens de negros escravos.
Outros ainda chamam a atenção dos alunos para as representações feitas dos africanos pelos europeus: a mudança da fisionomia dos africanos, de seus gestos, roupas e comportamentos, que recebem feições européias. Ou ainda destacam aspectos dos padrões artísticos, sociais, políticos e as visões de mundo de algumas sociedades africanas, permitindo aos alunos criar uma intimidade maior com o continente. E o pesquisador vê com otimismo os rumos desse segmento. De acordo com Oliva, editoras brasileiras têm se esforçado para fazer uma abordagem maior sobre o assunto. Já foram feitos livros paradidáticos, uma espécie de complemento aos livros que possuem falhas no tema. "É uma forma de preencher a lacuna de anos na educação, mas ainda não é o ideal", reconhece Oliva.

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