quinta-feira, 15 de maio de 2008

Grandes Mulheres do nosso Povo: Dona Lindaura


gostaria de fazer uma grande homenagem a essa personagem da história e do cotidiano da etnia Mina, da raça negra do Brasil:
DONA LINDAURA

Esta linda mulher negra foi também uma vitoriosa em seu tempo. nascida nas minas gerais do início do século vinte, neta de revoltosos malês refugiados nas montanhas mineiras, filha de capoeirista experiente, ela conseguiu constituir uma forte personalidade que lhe permitiu superar as barreiras fortes impostas às mulheres, aos pobres e principalmente à mulher negra, pobre, analfabeta, divorciada. nunca aceitou um marido machista, e por isso mesmo teve que separar várias vezes, para manter sua liberdade e sua vida. nos padrões atuais isso parece normal, mas não era na sociedade mineira da metade do século.

Acreditava que todos seus filhos homens (ela teve um número alto de filhos, comum naquela época) deveriam ter um terreno para cuidar de suas famílias, e para que isso ocorresse, ela, por conta própria, trabalhou muito para comprar lotes em várias áreas da crescente metrópole belorizontina. Ela era uma mulhe inteligente, estrategista. sabia onde comprar lotes, porque conseguia, de maneira única, perceber as tendencias urbanas.

Dona Lindaura foi uma mulher do campo, e da cidade. sempre valorizou os saberes que aprendera na roça, e os aplicou na dura vida da cidade. o aprendizado da vida urbana e as lições rurais lhe serviam para criar seus filhos com sabedoria. ela nunca desistiu, e , até seus ultimos dias ela lutou, discutiu, trabalhou, chorou, sorriu... sua face ora alegre, ora irada, refletia aquela alma que brigou muito para estar ali. nunca ficou parada em um lugar, e em um tempo, sempre soube que agir era a melhor forma de viver. nas suas ações ela resistia aos poderes que tentavam pulverizá-la.. ela conseguiu..

As maçãs que ela me trazia quando vinha do centro da cidade são memórias indescritíveis e prazeirosas de se lembrar.. ela sempre traziam balas abraços e sorrisos para mim. ela foi um símbolo de resistência da mulher negra mineira, e transmitiu para mim que a vida de negro nessa cidade não é fácil.. " ser livre não é fácil..."

Estas linhas não resumem várias páginas e livros que necessitam (será?) ser escritos sobre essa mulher. Mas é um início.. é uma homenagem a uma mulher que não esqueceu seus antepassados, suas origens, e seus herdeiros, sua descendência.. na conquista das terras para seus filhos, fez o que os "pseudo-abolicionistas" e os políticos não fizeram na abolição: dar um chão "àqueles a quem um dia foi negado o sol". Ela, na transcendência de seus atos, trazia à vida a luta de nossos antepassados pelo chão sagrado. Sagrado porque ele foi criado por nossos Deuses, porque nele vivem quem amamos, nossa ascendência e nossa descendência, porque nele encontramos nosso lugar de descanço e nele planejamos nossas estratégias de resistência, nele cantamos, comemos, corremos, brincamos, marcamos nosso campo pra jogar bola.. nele existimos enquanto nós...

salve Dona Lindaura, minha vó.. salve nossos antepassados...

(continua...)

Um comentário:

Anônimo disse...

é tão bom saber que sempre existem pessoas dispostas a não "seguir a maré" e consolidar aquilo que pensam em favor do que é arbitrariamente normatizado.
muito bonita a história de sua vó, e mais bonito ainda vc ter tido contato com essa narrativa de "vidas" e torná-la importante no seu aprendizado