segunda-feira, 12 de maio de 2008

.. a própria humanidade se tornou perigosa ao Estado...


"...Procura-se, há alguns anos, nos convencer a aceitar como sendo as dimensões humanas e normais de nossa existência certas práticas de controle que sempre foram vistas como excepcionais e, na realidade, inumanas. Assim, ninguém ignora que o controle exercido pelo Estado sobre os indivíduos por intermédio do uso de dispositivos eletrônicos, como cartões de crédito ou telefones celulares, já atingiu limites antes inimagináveis. Mas não é possível ultrapassar certos limiares no controle e na manipulação dos corpos sem penetrar em uma nova era biopolítica, sem dar mais um passo em direção ao que Foucault chamava de animalização progressiva do homem implementada pelas técnicas mais sofisticadas. O fichamento eletrônico de impressões digitais e retinas, a tatuagem subcutânea e outras práticas do mesmo gênero são elementos que contribuem para definir esse limiar. As razões de segurança que são evocadas para justificá-las não devem nos impressionar: elas não têm nada a ver com isso.A história nos ensina até que ponto práticas que, num primeiro momento, eram reservadas a estrangeiros acabaram sendo aplicadas ao conjunto dos cidadãos. O que está em jogo aqui não é nada menos que a nova relação biopolítica supostamente “normal” entre os cidadãos e o Estado. Essa relação não tem mais nada a ver com a participação livre e ativa na esfera pública, mas diz respeito ao registro e fichamento do elemento mais privado e incomunicável da subjetividade: falo da vida biológica dos corpos.Assim, aos dispositivos de mídia que controlam e manipulam a palavra pública correspondem, portanto, os dispositivos tecnológicos que inscrevem e identificam a vida nua. Entre esses dois extremos de uma palavra sem corpo e um corpo sem palavra, o espaço daquilo que antes chamávamos de política setorna cada vez mais reduzido, mais exíguo. Assim, ao aplicar ao cidadãos -ou, melhor dizendo, ao ser humano como tal-as técnicas e os dispositivos que inventaram para as classes perigosas, os Estados, que deveriam constituir o espaço da vida política, fizeram dela o suspeito por excelência, a tal ponto que é a própria humanidade que se tornou a classe perigosa..." (ver mais aqui)

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