segunda-feira, 5 de maio de 2008

Fé no Futebol: tradição moderna


Na vida de milhares de jovens de periferia hoje existe todo um ritual ao redor do futebol que o tranforma em uma espécie de religião sem deus. as torcidas organizadas são como as romarias (isso é muito claro.. qualquer um que tenha visto a caminhada desses coletivos humanos percebe isso), os estádios, templos-mor. a lealdade ao time e aos companheiro demostra uma irmandade e uma fé, oq ue concerne sentido às coisas. não importa, até certo ponto, se o time ganha ou não, pois boa parte do sentido desses coletivos não reside no ato do jogo em si, mas no grupo.

a primeira ida ao estádio, ou ao clássico, pode ser considerada como o ritual de passagem, um batismo. me contrariado um pouco, talvez podemos pensar que o time seja uma espécie de deus, mas não um deus onipotente, hebreu. talvez um deus muito mais humano, que ganha e perde, que nos dá força pra vencer o deus/torcida rival ou nos desola a tal ponto de não termos ânimo para o trabalho no dia seguinte ao jogo de futebol. o time que passa longos tempos sem vencer é como aquele deus que já não age como antigamente, aquele deus que não consegue mais motivar seus fiéis, um deus em declínio. temos fartos exemplos no futebol de clubes que há décadas que não conseguem as façanhas de títulos que, pouco a pouco, vão vendo o número de fiéis reduzir. só resta aqueles fiéis que lembram dos grandes feitos no passado. por outro lado, os deuses mais fortes e mais vigorosos vão ganhando mais e mais adeptos, que são convertidos logo no início da vida. geralmente tenta-se passar essa 'tradição religiosa' de pai pra filho, mas nada é certo nesse terreno. a escola e os grupos de amigos são importantes para definição do clube. o gênero ainda é uma categoria que vai marcar tal crença, embora hoje se veja uma maior reverência dos dois lados. esses deuses devem ser venerados, honrados, adornados, cultuados, ao contrário dos lutadores que vão se degladiar na arena gramada. ai daqueles que não honrar as vestes sagradas dos deuses! serão sempre lembrados os lutadores ou os devotos que mais se esforçaram por seu deus, e que ajudaram pela glorificação frente aos outros deuses e fiéis. nas décadas neoliberais, onde os passes dos jogadores começaram a valer mais do que o amor à camisa, o descontentamento é cada vez maior.

aparecem cada vez mais os falsos devotos, aqueles combatentes mercenários que lutam pelos deuses daqueles que lhe pagam mais. isso cria um descompasso entre a fé cotidiana e o clímax do ritual, os noventas minutos definitivos. como toda boa fé sincrética, é permitido e incentivado que outros deuses, os religiosos strictu sensu, influam no andamento das partidas.

d.oh.


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