Alienação? Esporte? Religião? Reality Show...
Ontem, ao vibrar estonteamente com mais um título de um grande clube brasileiro (azul-celeste), me vi numa situação incômoda: de onde vinha aquela euforia e aquela alegria tão grande? o que eu tinha ganhado afinal? um título, oras..
mas, para que serve este título? senão para comemorá-lo frente ao meu adversário futebolístico e.... para comentar. Cometar é a grande palavrinha mágica que a tv nos delega. Temos que ter uma opinião sobre as coisas, mesmo que aquilo não acrescente uma grama em nossa existência. Como Larrosa nos lembra, somos a todos os momentos impelidos a comentar, a ter opinião, mas não temos experiência. Ora, um amigo meu pontuou isso claramente: futebol é bom pra ser jogado, não pra ser visto. Vá lá que assistir os amigos ou conhecidos bater uma pelada é tão legal quanto jogar. Mas outra coisa completamente diferente é todo esse espetáculo construído nas últimas décadas em torno dos esportes de massa. Umberto Eco escreve em um de seus artigos jornalísticos diários especificamente sobre isso. Ele vai comentar a respeito dessa espetacularização do esporte, e sobre essa nossa estranaha atividade de se emocionar e lançar sentimentos a algo que não acontece conosco.
Nesse sentido, o futebol ( enão só ele, mas principalmente) se tornou nas ultimas décadas um grande Reality Show, pois ele não se reduz ao jogo propriamente dito. Diferentemente, até em certa medida, da telenovela, no jogo esportivo propriamente dito estão em disputas lançes, vidas, sonhos, interesses, emoções, dentro e fora do campo. como um Big Brother global. todos os preparativos anterior e todas as repercusões posterior ao jogo são exaustivamente comentados, opinados, estudados, debatidos, como se isso pudesse fazer algum efeito prático no momento do jogo. assim como os brig brothes espalhados pela tv, torcemos por um ou por outro no jogo do paredão, ficamos alegres ou tristes com o desenrolar dos fatos e, após os vencedores receberem seus prêmios (in ca$h), as emissoras ganharem seus dinheiros, os patriocinadores tirarem seus lucros, os perdedores serem vaiados e punidos, ansiamos ansiosamente pelo próximo campeonato, pelo próximo jogo, pela próximo gol, mesmo que isso não faça o menor sentido.
Contudo, se não fizesse nenhum sentido, talvez essa tradição moderna não estaria em sua plena forma até hoje. Marshall Berman nos mostra que entre modernidade e tradição, ao contrário do que muitos dizem, não há nenhuma oposição. aliás, são complementares. as tradições aniquiladas ou alteradas pela modernidades serão substituídas ou trasformadas por outras, novas ou renovadas. em uma sociedade onde parcelas da população são excluídas da construção da pólis e das possibilidades de compartilhar plenamente as 'benesses' da modernidade burguesa, percebemos o futebol se mesclar com valores, éticas, ideais que vão fazer do sentido esportivo um sentido quase que religioso.
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