segunda-feira, 5 de maio de 2008

onibus depredado: quem lucra com isso?

mais um dia de jogo, e mais uma vez vários ônibus da capital mineira quebrados, depredados pela ação daqueles que a mídia não cansa de chamar de "vândalos". convenhamos que é realmente chato ver os onibus quebrados, e pior ainda estar dentro de um ônibus quando uma pedra estoura um vidro na sua frente. já passei por isso e, na primeira, quase fiquei cego e na segunda, uma menina foi levada às pressas ao hospital por ter sido ferida na cabeça. convenhamos também que há alguns garotos e jovens que não possuem 'aparentemente' motivo algum nesses atos, nem mesmo "maldade", pois já ouve muitos deles dizendo que fazem tais atos por "fazer". além da população, as mais diretamente afetadas por tais depredações seriam as empresas de ônibus. certo? talvez não...
vamos nos reportar a um exemplo básico para entendermos melhor tal caso. quando vamos a um bar e, 'acidentalmente' deixamos cair um copo de vidro, quase sempre "não pagamos" por ele. bondade dos garços e do dono do bar? prejuízo para ele? Não. porque simplesmente o preço do copo já está embutido no preço da cerveja, refigerante, petiscos, guarnições... já se cobra pelos eventuais copos quebrados antes mesmo deles serem quebrados. se forem quebrados, tudo bem, já estão pagos. se não forem, é mais um lucro adicional. com os ônibus acontece o mesmo. o valor de r$ 2,10 que pagamos toda vez que vamos do IAPI até a rodoviária no 5031, ou tomamos o 8350 para ir do são gabriel até o barreiro, pagamos por uma série de coisas, inclusive pelas eventuais depredações que poderão ou não ocorrer (como também pela pulação de catraca que há nos onibus todas as noites, nas regiões mais periféricas da cidade). fora isso, existe todo um 'micro-ramo' na região metropolitana que se beneficia desse negócio. são empresas que trabalham na recuperação dos ônibus, fazendo com que o dinheiro circule e novas demandas sejam criadas. na década de 90, viu-se surgir um "novo micro-mercado" na capital, o mercado da depredação. e, se já existem várias maracutaias entre as empresas dos transportes públicos da capital, nesse negócio essas maracutaias devem se tornar mais claras. mas não vamos entrar nisso agora.
isso talvez explicaria o silêncio de anos de depredação sem nenhum movimento de retalhação por parte dos donos das empresas. eles já estão saindo no lucro de qualquer jeito, e quem paga o pato somos nós. o que devemos fazer então?
bom, não gosto de moralismos e principalmente de falsos moralismos. além disso, acredito que as leis, educação, democracia e possibilidades que existem hoje na sociedade estão muito aquém do que podemos realmente fazer e reivindicar. os meninos que depredam os onibus não estão totalmente errados, mas tb não estão totalmente certos. quebrar por quebrar não basta. isso não afeta as correlações de força e de poder que os mantém marginalizados e que os estigmatizam. quebrar machucando os próprios moradores também não adianta nada, só faz perder o apoio desses e que os atingidos reproduzam os preconceitos já existente. deve-se pensar estratégicamente, visando frustar os interesses dos grandes empresários. são eles que devem temer o quebra-quebra, não a população da periferia. até agora, o mais perto que eles chegam dos onibus quebrados é atraves das imagens que a tv noticia na hora do almoço, em um desses restaurantes finos da savassi ou da raja, comendo aquele churrasco argentino. ou através dos lucros advindos dessas quebradeiras..


d.oh.

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