quinta-feira, 29 de maio de 2008

LIBERDADE, AINDA QUE... EM MINAS


O Professor Fernando Massote teve, em 8 de dezembro último, uma longa conversa telefônica com a jornalista Annie Gasnier, correspondente do jornal francês Le Monde, sobre o governador Aécio Neves. O artigo saiu no dia 03.01.07 em Paris, com destaque na página internacional do jornal (em francês).
O ápice do texto está nas considerações críticas que o professor faz ao governador, às orientações e práticas políticas do seu governo… Estas considerações começam com a pergunta: “Com quais idéias para governar o País este filhinho de papai vai enfrentar o seu adversário (José Serra)?”
As demais considerações, sobre as mistificações do “Choque de gestão”, a maquiagem do “déficit zero” e as pressões sobre a mídia e o “beneplácito” desta para com o governador, os leitores podem acompanhar lendo a íntegra do texto, na versão portuguesa, logo abaixo.
Os principais órgãos da imprensa, favoráveis à política das elites mineiras que defendem o nome de Aécio Neves para a presidência da República, divulgaram o fato da entrevista do jornal Le Monde, omitindo da forma mais completa as críticas contidas na matéria e pinçando aqui e lá, sobretudo na primeira parte do texto, elementos cuidadosamente costurados para favorecer Aécio. É assim que para o grosso da imprensa, sobretudo mineira, a matéria do jornal francês não só não continha critica alguma, mas apresentava Aécio Neves com um perfil de predestinado!…
Os leitores do nosso blog, lendo a íntegra da matéria, poderão se dar conta da dimensão dessa “operação silêncio” e assim, do esmero com que Aécio Neves está blindado pela “grande”imprensa mineira sob os aplausos mais ruidosos das pontas mais conservadoras e socialmente insensíveis da elite mineira e nacional. Mobilizam-se, no entanto, em outra direção, pessoas, grupos, organizações da sociedade civil, com o apoio de rádios, tvs comunitárias, jornais impressos e outras mídias como os e-mails e blogs na internet, refletindo os interesses e a opinião de uma outra Minas Gerais, integrada pela gente simples e necessitada de uma vida melhor entre os jovens, as mulheres, os trabalhadores.
Eles são a grande maioria excluída e chegam a pontas muito sofridas da classe média; padecem sob a desordem econômica, social e política de uma sociedade abandonada a si mesma pelas elites do “choque de gestão” e do “déficit zero”. Eles lutam por uma vida muito diferente sob o teto da criminalidade zero, do analfabetismo zero, da injustiça zero, da violência policial zero, do déficit zero de moradias, do saneamento básico, da desasistência à saúde, desemprego zero!… É essa outra Minas Gerais que nos interessa e queremos escutar, interpretar, apoiar. Sem ela não há paz, segurança, república,liberdade e democracia!
Comitê de amigos do Blog do Massote
Jornal Le Monde, 03.01.07
Aécio Neves na disputa pelo pós-Lula
Annie Gasnier
O seu sorriso charmoso, enquadrado por covinhas, suscita uma simpatia espontânea. Em 1º de outubro, este sorriso refletia o orgulho: o jovem governador de Minas Gerais foi reeleito com 73% dos votos. Um resultado que mais parece um plebiscito de aclamação para o seu segundo mandato, para o qual Aécio Neves acaba de tomar posse neste início de janeiro.
Este homem de 46 anos, do Partido Social-Democrata Brasileiro (PSDB), estima que ele deve esse sucesso à sua gestão. Há quatro anos, o seu Estado, o segundo do Brasil pela sua riqueza, estava à beira da falência. Hoje, o seu orçamento está equilibrado. “Aqui, você encontra um verdadeiro laboratório de gestão pública”, afirma com orgulho Aécio Neves. “O nosso choque de gestão consiste em reduzir as despesas, modernizando ao mesmo tempo a administração pública”.
A sua reputação de gestor já se espalhou muito além das fronteiras de Minas Gerais. Os emissários de novos governadores comparecem em peso para aprender a receita que foi aprontada nesta nova Meca, Belo Horizonte, a sede das autoridades. Em março, o governador irá detalhar o seu método perante uma platéia de grandes investidores do Banco Mundial, em Washington.
Aécio Neves parece estar considerando com certo alívio o fato de mobilizar finalmente o interesse pelos seus programas. Ao que tudo indica, chegou a hora de colher os frutos do trabalho e conquistar uma fama maior para este descendente de uma família que se dedica à política há décadas. Até então, a sua imagem era ofuscada por uma sombra, engrandecida pelo tempo, a do seu avô.
Tancredo Neves foi o presidente que os brasileiros haviam escolhido, em 1985, para pôr fim ao regime militar que perdurava desde o golpe de Estado de 1964. Aos 74 anos, este hábil político de sorriso jovial havia unido na sua esteira as diversas correntes da oposição formadas durante a ditadura. Mas ele morreu antes de poder prestar juramento, no final de uma longa agonia que havia emocionado a nação inteira.
“Caso Tancredo tivesse governado, o Brasil seria bem diferente. Ele tinha a autoridade moral necessária para efetuar as reformas que o país está esperando até hoje”, afirma o seu neto, que está folheando a biografia colocada sobre a mesa do vasto salão onde ele recebe seus convidados. Ele aponta para as fotos que o mostram ao lado do seu avô, que fizera dele o seu secretário particular quando ele era - ele também - governador, neste mesmo palácio das Mangabeiras. “Foi um privilégio poder trabalhar com ele; ele continua sendo uma inspiração permanente”.
Em Minas Gerais, contam que Tancredo Neves acreditava na “boa estrela” do jovem diplomado de economia, e deu-lhe preferência em detrimento da sua irmã primogênita, Andréia, que se tornou uma colaboradora privilegiada - porém temida - do seu irmão. Na ausência de uma esposa, uma vez que Aécio Neves é divorciado, ela é oficiosamente a primeira-dama.
“Aécio traz consigo não só a herança de uma família”, estima o jornalista Franklin Martins, “como também aquela da principal escola política do Brasil”, diz, lembrando que existe uma extensa lista de presidentes mineiros. Os eleitos de Minas Gerais têm a reputação de ser conciliadores; Aécio Neves ilustra este ditado ao pretender combinar social-democracia com sensibilidade social. A imprensa não se cansa de observar “a sua relação cordial” com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O governador social-democrata não nega essa empatia; ele se recusa a ser um anti-Lula. Ele lembra que ele conhece o presidente há mais de vinte anos: “Um antigo sindicalista cuja história constitui um exemplo para milhões de Brasileiros”.
Ele acrescenta que Lula em várias oportunidades esteve sentado aqui para conversar. “São as idéias que se enfrentam, não os homens”, explica Aécio. Ele ainda acrescenta que ele não se furta a denunciar o governo federal.
Movido pela mesma diplomacia, Aécio Neves ambiciona renovar o seu partido, que foi severamente derrotado na eleição presidencial pelo Partido dos Trabalhadores. Ele propõe melhorar a implantação regional do PSDB, uma maneira de desafiar os eleitos de São Paulo, que nos últimos quinze anos seguem dominando a direção nacional. Mas, cedo ou tarde, ele precisará enfrentar um obstáculo sério: José Serra, um antigo ministro e um antigo candidato à presidencial contra Lula em 2002, atualmente o governador do rico e poderoso Estado de São Paulo. Os dois homens compartilham a qualidade de presidenciável.
“Com quais idéias esse filinho de papai irá enfrentar este adversário?”, se pergunta Fernando Massote, um professor de ciências políticas na Universidade Federal de Minas Gerais. “Ele não passa de um aventureiro que não defende valores importantes para uma nação”. Para ele, o governador mineiro representa “a direita conservadora a serviço de uma elite favorável à privatização de todos os serviços”. A sua opinião vem se acrescentar àquela dos críticos para os quais o “choque de gestão” do governador não passa de uma “simples variante do Estado mínimo”, e o “déficit zero” de uma simples maquiagem.
Um admirador do avô, Fernando Massote tornou-se um adversário implacável do herdeiro, a quem ele atribui a responsabilidade pela sua demissão do jornal local, o “Estado de Minas”. Após 23 anos de colaboração com esta publicação, o seu último artigo opinativo, de tom acerbo, contra Aécio Neves, foi censurado. Assim, outros jornalistas teriam sido demitidos em circunstâncias similares, o que incitou o sindicato dos jornalistas mineiros (SJPMG) a condenar “o autoritarismo do governador”.
Na Internet, o documentário intitulado “Liberdade, essa palavra”, realizado por estudantes em jornalismo de Belo Horizonte, denuncia as pressões que têm sido exercidas pelo entourage do governador.
Um editorialista de um diário nacional se diz espantado com a complacência dos veículos de comunicação da qual beneficia Aécio Neves, que ele conheceu muito bem quando era deputado no Congresso em Brasília durante 16 anos. “Eu gostaria de poder avaliar a sua política à luz de uma imprensa livre”, confessa o jornalista, que pediu para não ter o seu nome revelado.
Poupado pela imprensa política, Aécio Neves é paparicado pelas revistas dedicadas às celebridades, que capricham na elaboração de uma imagem de play-boy. Em 2002, ele foi eleito “um dos 25 homens os mais sexy do Brasil” pela revista “Isto É Gente”, que o descreveu como “um solteiro charmoso, poderoso e inteligente, que faz sucesso na noite carioca”.
Aécio Neves adora passar os fins de semana no Rio, “quando a minha agenda permite”. Ele passou a sua adolescência nesta cidade balneária, onde vive a sua filha Gabriela; um dos seus amigos é o “rei da noite carioca”, Alexandre Accioly, nas festas de quem ele costuma comparecer, trajando calças jeans e camisa, conforme testemunham as revistas.
Para aqueles que já o vêem suceder ao presidente Lula, em 2010, Aécio Neves reserva um sorriso brincalhão. “Ser presidente não é um plano de carreira, e sim uma questão de destino”, explica ele, provavelmente pela enésima vez. Mas o destino parece estar sorrindo para Aécio Neves.
Tradução: Jean-Yves de Neufvill

Nenhum comentário: