quarta-feira, 7 de maio de 2008

um outro passado é mais que possível, é essencial..



como pensar um futuro sem passado? conversando com minha amiga sobre isso, percebi que ela, estudante do curso de história, e 'adepta' a uma certa noção moderna de 'viver o presente pelo presente' e uma certa noção teórica do 'não-essencialismo', não acredita na força do passado. Seja ele histórico e/ou espiritual e/ou político e/ou cultural, todos nós necessitamos de um passado para construirmos um futuro e para guiarmos nosso presente. caso contrário, estaremos em um labirinto sem mapa e em uma guerra sem rumo, sem saber onde e quem atacar. um guerreiro desorientado é o alvo mais fácil para o adversário. a juventude hoje lançada no presente por si mesmo é carente de passado. os negros hoje consumidores de uma história feita de brancos para brancos são carentes de passado. as mulheres são carentes de passado assim como os pobres. por isso a luta hoje deve(ria) ser, antes de mais nada, a luta por um passado, ou melhor, a luta pela determinação autônoma e coletiva de um passado. uma cultura sem passado não sobrevive.


um outro passado para mim e para o povo negro é mais que possível, é essencial.


penso ser muito importante frentes de batalhas no momento: *na universidade a luta é por pensadores dedicados a reconstruir a história do brasil ( não só a "h. dos excluidos" ou a "h. dos negros", mas a "h. do brasil" do ponto de vista das lutas cotidianas e políticas, culturais e sociais travadas entre negros, índios e brancos, excluidos, populares, classmedias e elites, homens e mulheres, católicos e outros religiosos) e a construir arsenais teóricos que subsidiem as lutas institucionais e midiáticas que iremos acampar. a universidade, como o lócus da produção da verdade, é local também da disputa pela produção desta. é preciso criar outras histórias totalmente radicais, que subsidiem o nosso presente. *na cultura a luta é por construir histórias, desencavar falas e acontecimentos ocultados, esquecidos, destituidos de valor ou declarados como mitos, lendas, falsos. devemos desmentir cada fato da história oficial e apontar as lutas e apontar os 'reais fatos'. se os outros falarem que são mentiras e invenções, só estão revelando o próprio jogo que eles nutrem a séculos, com o poder que eles detém da palavra. *na escola pública a luta é primordial, principalmente na aula de história. tá certo que infelizmente temos que ensinar a 'história oficial racista' no segundo grau para que os alunos passem nos vetibulares e exames para acesso à universidade, mas podemos mudar muita coisa se começarmos pelo primeiro grau. acredito que se eu tivesse tido pelo menos um ano inteiro de aulas de história na sétima série que abordasse a história do brasil sem o viés eurocêntrico, eu teria acordado muito mais cedo para o grave problema que temos no país, e não teria visto amigos meus -negros- sendo mortos sem perspectivas nenhuma. chega de ouvir sobre histórias de povos que nada dizem respeito a nós! chega de ouvir que sempre fomos raça submissa, dócil, escravizada, apática, cordial, 'alegre', insoneiro... só podemos pensar em um presente de luta e um futuro com sentido se o nosso passado nos abençoar a cada manhã, antes das lutas cotidianas. todos os povos exaltam seu passado, até mesmo os portugueses e seus descendentes brasileiros. agora que temos a possibilidade de sermos professores nas salas de aula, iremos reproduzir a história do 'dominante'?


(continua..)

Nenhum comentário: