"sem grandes atrações além de alguns prédios desenhados por Oscar Niemeyer que não são nada perto de seus trabalhos famosos em Brasília" huahuahua
Belo Horizonte, uma cidade onde o mundo é um bar
29/10 - 17:48 - The New York Times
Belo Horizonte, no estado brasileiro de Minas Gerais, conseguiu se tornar a terceira maior cidade do país enquanto permanece praticamente desconhecida para o mundo exterior. Se os turistas – mais atraídos aos prazeres sensuais do Rio de Janeiro ou o clamor urbano de São Paulo – a conhecem de alguma maneira, é porque eles passam por ela a caminho de Ouro Preto ou Diamantina, tratando-a mais como uma parada para abastecer enquanto se dirigem às pitorescas cidades de mineração da era colonial.
Seu anonimato internacional nasceu de uma ausência de litoral e, portanto, sem praias, sem o famoso Carnaval, (e sem a loucura de fevereiro), e sem grandes atrações além de alguns prédios desenhados por Oscar Niemeyer que não são nada perto de seus trabalhos famosos em Brasília.
Mas Beaga, o apelido da cidade (que vem da pronúncia de suas iniciais), tem um potencial para fama: como a capital do bar no Brasil. Não bares como lounges de hotel, mas sim butecos, lugares informais para se sentar onde múltiplas gerações socializam, bebem cerveja e muitas vezes fazem uma refeição casual. Se você acredita no orgulho local, existem 12 mil bares na cidade, mais per capita do que qualquer outro lugar no país. O motivo ninguém tem absoluta certeza, mas uma teoria se tornou um ditado popular: "Não tem mares, tem bares".
E apesar dos guias turísticos mal mencionarem, eles são uma ótima maneira para os viajantes mergulharem na vida social de uma cidade cuja área metropolitana explodiu nas últimas décadas para mais de cinco milhões de habitantes. A melhor época para vir é no oitavo concurso anual Comida di Buteco, em abril, quando cerca de 40 de seus melhores bares competem em categorias como higiene, frescor da cerveja, serviço e o mais importante, melhor tira-gosto – ou petisco. Além dos juízes, uma votação pública elege os vencedores, dando aos moradores de Belo Horizonte uma frágil desculpa para sair todas as noites do mês.
Se você perder isso, não se preocupe. Toda noite do ano parece ter um sentimento de festa nesse local fora dos radares. Vá para a Mercearia Lili, um participante regular do Comida di Buteco. É um dos vários bares em Santo Antonio, um bairro de classe média alta nas colinas, que exige habilidades super-humanas de estacionar, ou, de preferência, o uso dos táxis da cidade.
Os bares são típicos de várias maneiras, até mesmo os móveis: mesas e cadeiras de plástico amarelas, com o logo da cerveja Skol, espalhadas nas calçadas (garrafas de 600 ml da cerveja Skol, que são divididas em pequenos copos, são a escolha da cidade. O murmurinho das conversas e os sons das garrafas – não um DJ – fazem a trilha sonora; grisalhos e o que seria considerado menor de idade nos EUA dividem mesas.
Não longe dali fica a Via Cristina. É mais luxuoso, com mesas cobertas por toalhas xadrezes verde e brancas, garçons uniformizados e uma parede de cachaças – centenas de rótulos diferentes da bebida feita de cana – onde os garçons usam uma escada parecida com as de biblioteca para mexer. Seu aperitivo no concurso desse ano foi o Raulzito, um salgado frito de carne que custa somente dois reais.
Se houvesse um prêmio no Comida di Buteco para o "mais difícil de ir", o Bar Freud ganharia todo ano. O lugar fica no meio do mato fora da cidade, depois de passar por uma estrada de terra com muito vento. O bar é construído em uma colina, aquecido por uma fogueira e tem algumas poucas mesas no meio das árvores ao redor. Lá tem música ao vivo (blues e rock), e tem um limitado, porém criativo, cardápio, como vinho quente ou sopas de frango e mussarela (R$ 3,50), uma boa variação do caldo de feijão e torresmo que tem em quase todos os butecos.
Os butecos não fazem parte somente da vida noturna, como você descobre se for ao Mercado Central da cidade em uma tarde no meio da semana. Claro, há bancas vendendo frutas, carne, o famoso queijo mineiro, cachorros e pássaros (para estimação) e galinhas vivas (para o jantar). Mas o mercado também é cheio de bares barulhentos e lotados como o Lumapa, onde as autoridades precisam fiscalizar a estreita rua de pedestres para que os consumidores que não bebem possam passar. Uma escolha mais calma é o Casa Cheia, um lugar que serve todas as suas criações para o concurso, como o mexidoido chapado, uma mistura de arroz, vegetais, quatro tipos de carne e ovos de codorna.
Também vale a pena ir para as vizinhanças mais afastadas para ver alguns temas estranhos de bares. (Com 11.999 rivais, você faz o que pode pra chamar atenção). O ultra-informal Bar do Caixote faz jus ao seu nome e as mesas e cadeiras são caixas de madeira. O vencedor geral do Comida di Buteco 2007, o Bar do Véio, fica em uma vizinhança afastada e seu taxista pode até ter problemas em chegar lá, mas qualquer um na área pode te ensinar. O prato simples deles de pedaços de porco com pequenas bolas de batata fritas com um ótimo molho de maça com hortelã foi o tira-gosto campeão de 2007.
Quando você precisar de um descanso dos bares, passe a tarde no bairro da Pampulha, onde fica vários prédios de Niemeyer, incluindo sua famosa Igreja de São Francisco de Assis. O bairro também tem o restaurante mais famoso de Belo Horizonte, o Xapuri, o melhor lugar da cidade para provar a cozinha tradicionalmente rústica de Minas Gerais. No domingo de manhã, você pode encontrar presentes diferentes na feira hippie (Feira de Arte e Artesanato da Afonso Pena), dois grandes quarteirões da avenida Alfonso Pena lotados com roupas, jóias, coisas para casa e artesanato. Quando acabar, pare nas barracas de comida de qualquer lado para comer peixe frito, doces de coco ou pare para apreciar a bela paisagem do Parque Municipal, logo depois da feira, para relaxar. Em qualquer lugar, você não estará longe de um vendedor pronto para abrir uma lata de Skol. Em Belo Horizonte, o mundo é um bar.
Uma Skol sempre está por perto.
- Seth Kugel
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