segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

PENSAR: SER-PARA-O-SEXO


SER-PARA-O-SEXO:

infâncias e errâncias

Estaríamos à altura de sustentar o ser-para-o-sexo engendrado pela subversão freudiana? – pergunta Lacan ao ser convidado a encerrar as jornadas sobre as psicoses da criança, em 1967. Esta subversão está na contramão do sujeito "penitente" que durante tantos séculos anteriores a Freud assolou a vida espiritual, tendo inclusive inspirado Heidegger em sua concepção do ser-para-a-morte. A análise lida com o ser-para-o-sexo, ou seja, o sujeito e suas vicissitudes diante da castração. Para o psicanalista, um dos desafios hoje é fazer valer a subversão freudiana no discurso sobre a sexualidade infantil. Atualmente, a criança está, não no lugar de sujeito, mas de objeto, vítima de "abusos sexuais" como se ela não fosse um ser-para-o-sexo atravessado por linguagem e gozo em função da estrutura que pré-existe a cada ser falante até o final de sua vida. A infância não pertence só à criança e sim ao inconsciente como sexual.

O tema ser-para-o-sexo é também a ocasião de retomarmos como o sujeito se posiciona do lado homem ou do lado mulher, como consiste do imaginário, como ama e como deseja. Que traço é esse no sexo que se impõe ao sujeito do nascimento à morte, a partir da errância de um itinerário de eterna repetição?
Quanto ao ser-para-o-sexo na pólis, é preciso distinguir o campo jurídico do campo do gozo, para não corrermos o risco de fazer da nossa função de analistas uma mera técnica de aplicação das leis, e poder questionar, com Freud, a inocência. O analista em sua vida de ser sexuado não difere dos demais, o que nada tem a ver com seu ato, pois ali ele deve estar como objeto causa de desejo para o analisante.
Aqueles que se sustentam na teoria do desenvolvimento, ao se recusarem à captura do espaço do ser falante, pouco se importam com a estrutura. Isso os leva a considerarem a vida como um viajante. Pago às ordens de alguém, esse viajante que se acredita um "não-tolo" (non dupe), vive nesse mundo como estrangeiro. Mas, no fundo, ele é ainda mais tolo por não saber do lugar do Outro. Lacan nos convoca a uma outra ética: "uma ética que se fundaria sobre a recusa de ser não-tolo, [se fundaria] sobre o modo de ser sempre mais fortemente tolo nesse saber, o inconsciente que, no final das contas, é nosso único quinhão de saber" (Lacan, lição de 13/11/1973).
 

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